Os antigos e atuais moradores da comunidade de Boassara estão vivendo um momento de grande apreensão, angústia e medo, com a situação bem complicada em que estão passando. As águas do Córrego do Brejão que é afluente do Ribeirão São Bernardo e que abastecem dezenas de propriedades rurais e centenas de famílias, estão secando.

De acordo com os pequenos produtores o que vem causando essa tragédia ambiental é a construção de barramentos para a irrigação de lavouras para a produção de tomate, com a instalação de bombas de sucção que abastecem uma grande represa à montante de uma nascente para o uso exclusivo de uma propriedade em detrimento às demais fazendas, chácaras e sítios que dependem das águas do manancial.

Como desabafou um morador já de idade apaixonado com a sua pequena propriedade: "A maior riqueza que temos aqui são as águas desse córrego. Sem ele não há vida, não existe sentido para as nossas vidas na roça. A nascente é um patrimônio natural de toda uma geração desde o meu bisavô que há mais de um século minha família vem cuidando desse lugar e chega alguém de fora e quer destruir tudo de uma hora para a outra pensando só no lucro e no próprio umbigo? Isso não é justo!".

Além de tudo isso, do absurdo físico ao crime ambiental, há informações do Conselho de Desenvolvimento Comunitário de Boassara que o empreendimento não possui nenhum tipo de outorga ou licença ambiental para o desenvolvimento das atividades em questão.

O pior de tudo isso é o tipo do sistema adotado onde funciona a empresa de propriedade com a plantação de tomate, local onde ninguém pode entrar. Tem até escolta armada e ordens rígidas para o impedimento do trânsito de pessoas sem autorização da gerência da fazenda. Um tipo de lei do cangaço, isso em pleno século 21.

Não bastasse, o tamanho da bomba de sucção de águas é bem superior na dimensão ao estravasor que funciona como sistema de alimentação do Córrego do Brejão. Ou seja, a cada dia que passa a vazão da água vem diminuindo em volume acelerado que pode levar a área de vereda a um colapso hídrico até levar morte da nascente.

Com todos esses precedentes e diante de um quadro deplorável e desumano, o lucro exclusivo em vez da partilha do coletivo, a comunidade de Boassara começou uma movimentação com a provocação de órgãos ambientais e o acionamento da justiça para inverter a situação e a solução para o problema.

Assim, houve diligências no local com a presença da Defesa Civil, Polícia Militar de Meio Ambiente, Conselhos Ambientais, Imprensa e representantes da comunidade local, para checar in loco da real situação do objeto da denúncia de crime ambiental.

As vistorias desenvolvidas pelas forças de comando ligadas ao meio ambiente e sustentabilidade de Patos de Minas foram feitas, respectivamente, nos dias 8 e 13 de maio, quando foram detectadas várias irregularidades na referida propriedade. Nesta data, foi emitido pela Polícia Militar de Meio Ambiente um Registro de Evento de Defesa Social (REDs) contendo o relatório técnico das atividades e a condição ambiental e sanitária encontrada no local.

O fato é tão grave que agora ultrapassou as etapas de boletins de ocorrência e fases de meras denúncias e indignação popular. A comunidade, por meio de seus representantes legais, participou da reunião do Codema na manhã de 15 de maio e na parte da tarde houve audiência com o promotor de justiça Dr. José Carlos de Campos da Curadoria de Meio Ambiente do Ministério Público para dar um basta nessa situação cruel e desumana em que estão vivendo no momento os moradores da comunidade de Boassara em Patos de Minas.

Em manifestação de apoio aos moradores da região de Boassara, a presidente do Colmeia Patos, Geize Soares propõe o seguinte: "Se lá é um manancial de abastecimento público tem que haver intervenção até mesmo do Igam, porque a prioridade do uso é para o consumo humano, e isso é conflito do uso da água, assim o Igam tem que ser acionado para ficar ciente e a par dessa grave situação em que está passando no momento a comunidade rural de Boassara".