Lá se vão mais de 15 anos desde que tomei a decisão (ainda muito jovem e idealista) de ser professor, e justamente na área de Meio Ambiente. Na época, uma parente próxima fez questão de me alertar: “Você escolheu logo uma das áreas mais difíceis… vai ser pobre.” Confesso que aquilo ficou ecoando por um tempo, mas cá estou eu, depois de tantos anos, dando aula no ensino fundamental, médio e no superior, sobrevivendo (e rindo) do drama profetizado.
Nesse caminho, mergulhei de cabeça nas diretrizes da nossa tão falada , LDB a Lei nº 9.394/96, pra quem gosta de citar com formalidade , e entendi que educação vai muito além de formar gente “operacional”.
Outro dia, vi um post dizendo que a escola deveria ensinar mesmo é a declarar imposto de renda, preencher cheque, investir, conhecer política… Enfim, transformar o currículo básico num grande curso de educação financeira e cidadania prática. Porquanto, se isso aí fosse a salvação da lavoura, o Brasil já estaria a anos-luz de evolução.
Não discordo que essas coisas sejam importantes. São. Mas devem ser complementares, não o foco central da formação básica. O ensino fundamental, como o próprio nome diz, deve formar o sujeito com base sólida: ciências da natureza, matemática, linguagem, raciocínio lógico e ético. Essas são as estruturas que sustentam qualquer outra aprendizagem.
O resto? Bom, o resto é do cotidiano, é da vida, é da família (ou pelo menos deveria ser)
E se alguém ainda acha que professor de meio ambiente é pobre, talvez seja porque a verdadeira riqueza nunca esteve mesmo no saldo bancário.
Porque educação de verdade não se limita a ensinar a preencher cadastro, abrir parênteses ou aplicar um golpe de mestre no Imposto de Renda. Educação, de verdade, é fazer com que as pessoas aprendam a pensar, a escrever com clareza, a viver com consciência. É entender o próprio corpo, é saber que tomar uma vacina não vai te transformar num jacaré, e sim num ser humano minimamente protegido contra a própria ignorância.
Sou professor, fui aluno e percebi que a educação é muito mais que isso e, se hoje sou doutor, não é porque sabia preencher um cheque!